sábado, 5 de junho de 2010

Nelson (F)

Bater as botas.. A morte.. O que há para dizer sobre ela?
Toda a gente já perdeu alguém desta maneira, pelo menos, uma vez na vida.
É um choque, uma dor que nos dá no coração, tão forte que quase nos mata a nós próprios. Não é uma dor qualquer. Não é uma dor física como temos quando nos magoamos, ou caímos. É uma dor sentimental. Uma impressão que nos dá cá dentro, um vazio. Como que se tivéssemos o coração cheio, e, de um momento para o outro, nos tivessem sugado o coração, tal como sugam o ar a um balão. É um sentimento idêntico, um vazio idêntico. Mas pior. MUITO pior.
Quanto mais chegada nos é a pessoa, quanto mais importante é a pessoa para nós, maior é o vazio. Maior é a perda. Maior é o sofrimento. Tenha sido importante no passado ou tenha-o sido mais no presente. Eu já experenciei as duas, nenhuma delas foi leve. Custou tanto uma como a outra. Doeu. Bastante.

Hoje, dia 5 de Junho de 2010, perdi uma pessoa que foi muito importante para mim no início da minha adolescência, perdi um grande amigo, uma pessoa que me fez sorrir em alturas bastante complicadas da minha vida. Fazia hoje 20 anos. Era novo, sem dúvida. Ninguém merece morrer tão novo. Ninguém merece morrer. E não, não foi causada por nenhuma doença, foi uma simples indigestão. Estúpido e sarcástico não?

Fica aqui uma pequena homenagem a um grande amigo, e já agora deixo também uma espécie de carta, visto que nem me pude se quer despedir-me dele.

"Nelson,
Foste das pessoas mais importantes da minha vida, para além de um melhor amigo que ganhei, aquele que me apoiava nos bons e nos maus momentos, aquele que me ajudou a ultrapassar várias dificuldades com problemas familiares e afins, aquele que mudou a minha vida quando eu tinha simplesmente 13 anos.

Lembro-me perfeitamente de como te conheci e do que eu fiz para te conhecer (eu e a Inês). Ainda me lembro como soubémos o teu nome no ano anterior, no salão de jogos no parque, enquanto estavas a jogar com o teu avô. E quando foste para a tua tenda, que te seguimos feitas parvas, incluindo seguir mesmo as tuas pegadas, às tantas da noite, tudo escuro e nós com as luzes dos telemóveis a seguir as tuas chuteiras, Nike 90. E mesmo assim não foi nesse ano que te conheci. Tive que esperar 1 ano.
A tua tenda era a metros da minha. Ganhei coragem para falar contigo. Apresentei-me, mas, com pena nossa, já te estavas a ir embora. Passou-se uma semana. Reencontrámo-nos, passámos a noite inteira (uma noite de karaoke, também me lembro disso, perfeitamente) a falar sobre a vida, sobre as nossas vidas, sobre o que tínhamos, o que não tínhamos feito e o que queríamos fazer até ao momento. Eu tinha 13 anos, tu tinhas 16.
Fizeste-me feliz durante os meses das férias, tendo sido o meu primeiro namorado a sério, (re-)apresentado à família e tudo (sim, porque chegámos à conclusão que tivémos para ser primos e que as nossas famílias se conheciam, espectacular). Foi um Verão perfeito contigo. Lembro-me de tudo como se fosse ontem.
Contei-te coisas da minha vida que nunca tinha contado a mais ninguém. Desabafei contigo, abracei-te a chorar por momentos maus que já tinha passado até ao momento, incluindo a doença da minha mãe. Contaste-me coisas da tua vida que nunca tinhas contado a mais ninguém também. Tragédias familiares, etc, para não entrar em grandes promenores da tua vida. Acho que posso dizer que conheci-te como nunca mais ninguém te conheceu.
Não perdemos contacto durante 4 anos. Continuei a desabafar, mesmo longe, sobre muitas coisas da minha vida que se foram passando.

Pena teres ido. Acredita, com toda a minha sinceridade, vou sentir muito a tua falta. E tudo o que eu me lembro até agora de ti, de nós, lembrar-me-ei para o resto da vida. Foste muito importante. És muito importante.
Não te esquecerei nunca, Nelson. Adoro-te."

(F) Nelson, 05.06.1990 - 05.06.2010

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