terça-feira, 8 de junho de 2010

Saudade



SAUDADE
"Em alguma outra vida devemos ter feito algo de muito grave ou ruim para sentirmos tanta saudade"

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé doiem.
Dói bater com a cabeça na quina da mesa.
Dói morder a língua, dói cárie, dói cólica e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um familiar que mora longe.
Saudade de uma colega de infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade da mãe que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas, mas a saudade mais dolorosa é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ele na sala, sem se verem, mas sabiam que estavam lá.
Você podia ir para a escola e ele para o trabalho ou para a faculdade/escola, mas sabiam onde estavam.
Você podia ficar o dia sem vê-lo, e ele o dia sem vê-la, mas viam-se no fim de semana.
Contudo, quando o sentimento de um acaba ou torna-se menor ao outro sobra apenas uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ela continua fungando na hora de dormir.
Não saber se ele ainda carrega aquela mochila para qualquer lugar que ele vá.
Não saber se ela continua amando empadão.
Não saber se ele continua a ser tão ciumento e neurótico.
Se ela continua assistindo as aulas.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre de dieta.
Se ele continua adorando redbull.
Se ela está fumando menos.
Se ele continua sorrindo daquele jeito lindo.
Se ela aprendeu a pensar mais com a cabeça do que com o coração.
Se ele continua levando tudo na sacanagem.
Se ela continua viciada em doce.
Se ele continua usando aquela fita engraçada.
Se ela continua gostando tanto dele como antes mesmo depois de tudo o que aconteceu.
se ela continua sendo tão fechada daquele jeito com medo de sofrer.
Se ele continua tão romântico.
Se ela continua tão divertida.
Se ele ainda ama música antiga.
Se ela continua com aquelas expressões inglesas e gírias engraçadas.
Se ele continua moreno.
Se ela continua adorando ginger ale.
Se ele ainda usa aparelho.
Se ela ainda usa o mesmo corte de cabelo.
Se ele continua com aquela pele escura feito breu.
Se ele continua com aquele problema de suar demais.
Se ela continua a confiar em todo mundo e se ele continua achando isso tão errado.
Saudade é não saber mesmo.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música.
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não saber se ele está com outra e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ela está feliz e ao mesmo tempo perguntar a todos por isso.
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você
provavelmente está sentindo depois do que acabou de ler.

- Martha Medeiros
(c/ algumas alterações feitas por mim, Joana Teixeira)

"Quando a saudade não cabe no peito, transborda nos olhos."
"A saudade existe não porque estamos longe, mas porque um dia estivemos juntos..."

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